Um novo estudo, realizado por cientistas da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Qatar, apontou que a periodontite foi significativamente associada a um maior risco de complicações decorrentes da COVID-19.
Enquanto a maioria dos pacientes com COVID-19 apresenta sintomas leves, quase 14% dos casos confirmados desenvolvem condições graves que requerem hospitalização e suporte de oxigênio, 5% precisam de internação em unidades de terapia intensiva e cerca de 2% morrem.
Os casos graves geralmente apresentam uma resposta imune exacerbada, sugerindo uma ligação clara entre a gravidade da doença e uma hiperinflamação sem resolução causada pelo vírus.
Além disso, a gravidade da infecção por COVID-19 foi associada a pacientes que sofrem de comorbidades (por exemplo, hipertensão, diabetes, doença cardiovascular), idade avançada e obesidade.
O papel da saúde bucal em COVID-19, no entanto, ainda é controverso. A periodontite é uma doença inflamatória crônica nos tecidos, ligamentos e ossos específicos que envolvem e sustentam os dentes.
Ela provoca a destruição dos tecidos de fixação do dente, levando a perda do dente se não for tratada. A inflamação crônica frequentemente leva à inflamação sistêmica de baixo grau.
A periodontite compartilha fatores de risco comuns com a maioria das doenças inflamatórias crônicas conhecidas por influenciar a gravidade do COVID-19, e já foi associada ao aumento de doenças cardiovasculares; diabetes; hipertensão; doença renal crônica, pneumonia e até câncer.
Em suma, as complicações do COVID-19 são causadas por uma reação inflamatória severa que compartilha alguns sinais comuns com a periodontite.
Para mostrar que a periodontite pode ser um fator de risco para COVID-19, um total de 568 pacientes que testaram positivo para a COVID-19 foram incluídos no estudo.
Dentre estes, 40 tiveram complicações devido à COVID (incluindo óbito, admissões na UTI ou necessidade de ventilação assistida). Os 528 restantes tiveram alta sem quaisquer complicações e foram considerados o grupo controle.
Os pacientes que apresentaram periodontite foram 258, dos quais 33 tiveram complicações, enquanto apenas 7 dos 310 pacientes sem periodontite apresentaram complicações do COVID-19.
O estudo mostrou que mais de 80% de todos os pacientes que tiveram complicações do COVID-19 tiveram periodontite em comparação com apenas 43% daqueles sem complicações.
Pacientes com periodontite apresentaram 8,81 vezes mais risco de morte, 3,54 mais riscos de internação em UTI e 4,57 mais necessidades de ventilação. O que representa um risco de 3,67 para todas as complicações de COVID-19.
Também foram monitorados biomarcadores laboratoriais dos pacientes. Com isso, os cientistas esperavam monitorar os sinais de inflamação no sangue dos pacientes.
Curiosamente, os casos de COVID-19 com periodontite apresentaram níveis mais elevados desses biomarcadores do que aqueles sem periodontite, o que pode indicar uma possível ligação dessa associação por meio de inflamação sistêmica.
Os autores afirmam que o estudo identificou que o risco de desenvolver complicações da COVID-19 foi significativamente maior entre os pacientes com periodontite em comparação com aqueles sem periodontite. E, consideram os resultados convincentes para confirmar a associação entre periodontite e pior progressão de COVID-19.
Os autores acreditam que a aspiração das bactérias presentes na inflamação na boca pode agravar a COVID-19 e que a cavidade oral pode atuar como um reservatório viral. Com isso, uma forte resposta imunológica na periodontite pode exacerbar o processo inflamatório da COVID-19.
Porém os autores destacam que são necessários mais estudos para estabelecer uma ligação de causa e consequência entre periodontite e o agravamento da COVID-19. Pesquisas futuras podem ajudar a entender melhor as conexões causais entre eles.
